terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mad Dogs & Co


Autor: Chart korbjitti

Tradutor: Marcel Barang


Gênero: Romance/Ficção
Editora: Howling Books
N° de Páginas: 510


"Para eles, quando alguém havia partido, isso se tornava uma história divertida, um episódio feliz que valia a pena ser contado. Eles falavam apenas do que já havia passado: não falariam do que estava por vir."*

"For them, when someone was over, it became a funny story, a bout of happiness worth talking about. They talked only of what had gone by: they wouldn't talk about was coming up." p. 503


           Quando amigos de verdade se reúnem depois de muito tempo, com bebida à vontade, boas histórias para se contar é o que não falta. Este livro é contado do ponto de vista dos personagens. Dois amigos se encontram num bar, depois de muito tempo sem se ver, e começam a contar como estão suas vidas. É um dia chuvoso, e é a chuva que nos traz de volta a realidade, após cada história. Um assunto puxa outro, uma dose leva a outra, e somos carregados pelas lembranças de Otto, Chuanchua, Thai, Sam Lee, Lil Hip e outros. A história se passa na Tailândia, e mesmo sabendo que não se pode levar tão a sério o contexto de uma ficção, sempre acho que há muito de realidade na organização social e costumes apresentados. Como por exemplo o uso de mosquiteiros ou a forma como algumas pessoas tentam ganhar a vida trabalhando em comércios, tentando manter esses negócios, ou mesmo a estação turística, que mantém os comércios abertos metade do ano, sendo que na outra metade não há clientes suficientes e os negócios tem de fechar e aguardar a próxima estação.
         Otto é o dono de uma loja de suvenires para turistas, a loja está fechada quando Chuanchua chega de Bangkok para visitá-lo. Eles vão para um bar e começa a rodada de conversas e reminiscências, sempre de forma descontraída, rindo da desventuras um do outro. Otto já foi procurado pela polícia por tentativa de homicídio, quando adolescente. Abandonou os estudos para fugir, esteve envolvido com drogas, e trabalhava como segurança para uma espécie de máfia, quando perdeu alguns dentes. Teve uma oportunidade de largar essa vida e a pegou. Passou a viver com amigos numa loja a beira-mar. Eles só ganhavam o suficiente para comprar a bebida [e outras drogas, o consumo é bastante explicito..] e um pouco de comida. Viveu como hippie durante esse período de sua vida. 


"He had thought about running away from the underworld, but there was no way out. How could he leave? He was still wanted by the police. How could he find a job? He had no education. Worse than that, he had become a drug addict. Where would he find the strenght for unskilled labor? Besides, any work of that kind was unlikely to bring enough money to satisfy his needs." p. 86

"Ele pensou em fugir do submundo, mas não havia saída. Como poderia fugir? Ele ainda era procurado pela polícia. Como poderia encontrar um emprego? Ele não tinha estudos. Pior que isso, tinha se tornado um viciado. Onde encontraria força para trabalhos pesados? De qualquer forma, qualquer trabalho desse tipo não traria dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades."*


           A história vai sempre mudando de foco e retornando. De Chuanchua pouco é contado, ele parece estar mais presente para que a história possa se desenvolver. Ele é um escritor, de férias, ou na verdade em busca de inspiração para seu novo romance. Também conhecemos Thai, com sua infância sofrida pela incompreensão do pai, seu gosto pela música e suas habilidades comerciais. Thai abre um restaurante, onde é bem sucedido, porém tem problemas conjugais, e acaba se enredando nas drogas. Quando sua esposa, Tha, estava grávida, ele se envolveu com a cozinheira e todo mundo ficou sabendo. Tha o abandonou, e foi morar com seu filho na casa da sogra. Há algumas reviravoltas nisso, mas essa parte é interessante, pois as mulheres não tem uma participação muito ativa nesse livro. Acaba sendo sempre um bando de amigos se divertindo. As mulheres são mais parte da diversão, ou personagens secundários, como a mãe austera de Thai ou a madrasta de Otto.
            Sam Lee é o personagem calmo do grupo, é honesto, gentil, não bebe, mas está sempre junto para ajudar os amigos. O senso de amizade é o tema central deste livro. O tipo de amizade profunda do tipo "faça isso, sem perguntas", e o outro respeitar. É saber que sempre terá alguém para te ouvir, pagar uma cerveja, ou mesmo dividir a casa. E é também muito brincalhão. Você pode ver histórias tristes como a morte do pai de Thai. E pode ver também as engraçadas, como quando.. pensando bem, geralmente envolve acidentes e drogas e/ou bebidas. Um deles caiu do segundo ou terceiro andar, quando tentava se esconder dos amigos, mas estava bêbado demais e acabou dormindo. Outro caiu de um trem em movimento. Também tiveram dois que caíram de moto. Ah! E claro, o que se envolveu com uma freira, que acabou virando uma esposa megera. E o que roubou a namorada do outro, porque não queria que este se casasse e o abandonasse. E assim por diante.
          Este é um daqueles livros que você precisa se acostumar com, antes de realmente apreciar. Isso por conta da linguagem, e também por se tratar de uma outra cultura. Acaba levando um tempo para se ambientar. Contudo, vale a pena o esforço. "O livro atual é sempre o melhor."... nem sempre. Já li uns muito ruins. Uns que gostaria de pedir meu tempo de volta, e uns que valeram só pelo final surpreendente. Este vale como um conjunto. É como estar reunido com um grupo de amigos ouvindo histórias hilárias, e algumas tristes. E tudo isso faz parte de ser humano.


"He grabbed the money and walked out of the store. He didn't understand why some people coudn't feel some sympathy for others or at least show some understanding, instead of only hankering after money and profit." p. 176

"Ele pegou o dinheiro e saiu da loja. Ele não entendia porque algumas pessoas não podiam ter simpatia pelos outros, ou, pelo menos, mostrar alguma compreensão, ao invés de somente desejar dinheiro e lucro."*






Autor: Chart Korbjitti nasceu em Samut Sakhon, Tailândia, em 1954. Ganhou dois S.E.A. Write Awards, e foi nomeado Artista Nacional em Literatura em 2004. Lançou vários livros, dentre os quais os mais  famosos são: No Way Out, Time, The Judgement, e, é claro, Mad Dogs and Co.


"That we met too late or too soon is neither here nor there. What's important is that we met at all." p. 263

"Se nos conhecemos muito cedo ou muito tarde, não importa. O que importa é que nos conhecemos de todo."*

C.P.: Acho sensacional a forma como ele cria histórias, ou melhor, a forma como as conta. Sempre acreditei que não importa muito o tema, desde que você seja um bom contador. É por essa razão que não me prendo a gêneros literários. Todos eles podem te surpreender, desde que tenha escolhido o escritor correto. A tradução que peguei foi maravilhosa, mantendo a linguagem coloquial, ainda que um pouco difícil de entender, às vezes [se não houvesse um pouco de desafio, que graça teria??]. Peguei a versão em inglês, não há tradução em português [que eu saiba..]. Na verdade, foi bem difícil conseguir informações sobre esse autor. São sempre termos gerais. Precisamos expandir nossos horizontes de leitura, e saber outra língua ajuda bastante.


'"Happy birthday," Chuanchua toasted as he raised his bottle.
   After drinking they laughed at each other. They knew today was no birthday for either of them, but they felt amused to celebrate it. When someone asked, "Whose birthday is it?" they'd answer, "There must be someone who was born today."' p. 401

"- Feliz aniversário, -  Chuanchua brindou enquanto levantava sua garrafa. Depois de beber, riram um para o outro. Eles sabiam que hoje não era o aniversário de nenhum deles, mas se sentiram satisfeitos em celebrar. E quando alguém perguntou - Quem é o aniversariante? - eles responderam: - Deve haver alguém que nasceu hoje."*

* Tradução livre.

domingo, 28 de junho de 2015

Toda História Tem Mais de Uma Versão

          Às vezes me faltam palavras pra expressar minha indignação, às vezes me falta paciência. Contudo, vou sempre tentando, porque o mundo é enorme, assim como as perspectivas das pessoas. Centros de educação são fontes inestimáveis de conhecimento. Numa aula, em um sábado qualquer, foi-me mostrado um vídeo, sobre as noções e visões e preconceitos das pessoas. Decidi compartilhar esse vídeo, porque mostrar que há mais de um ponto de vista em qualquer discussão é um ensinamento sem igual. Então imagine uma criança negra, africana, imagine sua infância, seu crescimento. Imaginou?? Agora veja o vídeo!






          É perceptível, quase palpável a forma como julgamos inferiores ou nos apiedamos das pessoas, sem notar que isto não lhes traz bem algum. Ter pena de uma pessoa e não fazer nada é se colocar numa posição de superioridade, uma "arrogância bem intencionada". Do nascimento até a morte, trilhamos caminhos diferentes de outras pessoas, mas em geral isto não nos torna melhores ou piores. Sou a favor das causas justas, mais que das igualitárias. Seres humanos são tão vastamente diferentes, que querer manter um tal equilíbrio fatalmente levará à frustração e ao fracasso.


          A mídia exerce um papel importante como criadora de opiniões. Aqui entram as relações de poder. Aos desinformados: a mídia é sim controlada e manipulada. Vivemos num mundo capitalista, e ainda que essa não fosse a razão, existem leis sobre o que pode ser apresentado ao público. Temos liberdade de expressão, mas, como sempre ocorreu no convívio em sociedade, você só pode expressar aquilo que não ofende diretamente o centro de poder, caso contrário seu protesto será abafado e você será injuriado e desacreditado. A internet ainda é um meio de expressão mais livre, porém pouco confiável, já que qualquer um pode dizer o que quiser. As "massas ignorantes" vão aonde veem fogo. Parecem estar sempre em busca de algo podre, abutres descerebrados.




          Este é um convite a buscar sempre mais de uma opinião. Nunca uma história é entendida da mesma forma por mais de uma pessoa, e, às vezes, ao relermos a história, esta ganha novo significado. Somos uma colcha de retalhos, composta de crenças pessoais, experiências, paixões, feridas e esperanças. Podemos mudar o mundo, mas pra isso é preciso entender que o nosso ideal de mundo vai bater de frente com o do outro, e precisamos aprender a lidar com isso.

domingo, 14 de junho de 2015

The Apprenticeship of Big Toe P

Autor: Matsuura Rieko
Tradutor: Michael Emmerich

 
Gênero: Romance/Ficção
Editora: Kodansha International
N° de Páginas: 447



"I came to the conclusion that people are able to love all kinds of people in all kinds of different ways, and that was enough for me." 


[Eu cheguei a conclusão de que as pessoas são capazes de amar todos os tipos de pessoas, das mais diferentes formas, e isso foi o suficiente para mim.]

 
          A quem interessar possa [e que saiba inglês ou japonês, já que até o momento não foi vista tradução em português, e não sei se tem em outras línguas..] este é um interessante livro sobre como lidar com coisas estranhas que possam aparecer no seu corpo. Porque temos sempre de seguir em frente e tirar o melhor proveito das situações bizarras que a vida nos impõe. Então, imagine que um dia você acorda e descobre que o seu dedão do pé direito virou um pênis [uahahha adoro japoneses e sua imaginação bizarra insondável..]. Isso é o que ocorre com Kazumi, uma jovem de 22 anos, que acabara de perder uma amiga [Yoko havia se suicidado, e Kazumi foi a pessoa a encontrá-la em seu apartamento..]. Kazumi é uma pessoa altamente ingênua sobre relações pessoais [em verdade ela é muita lerda lenta para entender ou se importar com a reação das outras pessoas. Há toda uma alusão sobre Yoko ter se apaixonado por ela, e ela nunca ter notado, então Yoko se matou e a amaldiçoou com a coisa do dedão..]

          A partir de então, ela passa a ter de lidar com sua nova forma de ver a sexualidade. Seu namorado aceita bem as coisas, até que um dia se revolta e decide cortar o "dedão" dela. Kazumi é ajudada por seu vizinho, Shunji, um jovem músico cego. Shunji tem uma maneira inocente de enxergar as coisas, até pela forma como foi tratado ao longo de sua vida. Ele acredita em sexo como uma forma de "amizade", e não faz diferenciação entre homens e mulheres. Kazumi é atraída por essa inocência, e pela forma como Shunji aceita seu "dedão" como uma parte dela, e não algo grosseiro a ser extirpado [vamos aonde somos aceitos..]. Contudo, Kazumi é nonsense ao ponto de mal terminar um relacionamento de três anos e começar um noivado com um completo desconhecido. Há uma total inconsistência em sua forma de "amar". Ela ama o namorado, até que este não aceita uma parte de seu ser. Ama Shunji, porque este a aceita, mas vive um dilema sobre ser ainda mulher ou não [extensas cenas sobre masturbação e sexo oral no "dedão"], mesmo que ela não aceite de forma alguma o pensamento de ficar com outra mulher. E ama Eiko, no fim.

          As notícias andam, e logo uma trupe a convida a participar de uma espécie de show sexual exclusivo [para ricos e políticos, com gosto questionável], em que cada participante tem alguma anomalia [tem uma mulher com dentes na vagina, uma que tem severa alergia a fluídos corporais, que a deixa com marcas vermelhas onde estes a tocam. Há um homem com pênis deformado, um que fez operação para  retirada do pênis, e, o que realmente apareceu como uma novidade: um siamês incompleto. Ele tem a maior parte das funções normais, porém seu irmão é que possui o pênis,e este não tem cérebro..].  Kazumi aceita viajar com a trupe, e começa a perceber que apesar de seus corpos e do que fazem para ganhar a vida, eles são pessoas normais, e muito gente boa. Lidando com todas essas formas de amor, ela acaba por se interessar por uma das garotas da trupe [que não tem nenhuma anomalia.. e isso também ocorre depois de Shunji ter sumido com um de seus "amigos".. no fim ela acaba por se apaixonar por quem lhe dá atenção.]. Assim se completa seu percurso pela sexualidade. Ela deixa de ser somente a amante passiva de seu primeiro namorado, começa a sentir como é ter um pênis, passa pelo estágio de negação, mas acaba também ficando com uma mulher. E o objetivo é alcançado: ela passa de um estágio de preconceito vazio para a concepção de que toda forma de amor é válida e especial. Isto é feito de forma gradual, o que nos leva a um estado de pensamento em que entendemos e também somos convencidos disso.




Autora: Matsuura Rieko nasceu em Matsuyama, em 1958. [Jurava que era um homem, nunca vou saber diferenciar pelo nome..] Estudou literatura francesa, e teve seu primeiro livro publicado em 1978, este foi o livro The Day of the Funeral [título interessante.. se não fossem os outros livros e coleções que tenho de acaba de ler]. The Apprenticeship of Big Toe P foi lançado em 1994 e ganhou o prêmio Women Writers' Prize, tornando-se um best-seller. Reza a lenda que ela teve a ideia para o livro ao sonhar que seu dedão do pé havia se transformado num pênis. A partir daí, ela desenvolveu a história em torno de algo que já pensava em escrever: sobre a mudança de perspectiva sobre sexualidade após determinadas experiências.



Livro na Amazon:


 
C.P: Vivemos em uma sociedade com valores impostos pela cultura e religião, economia e política. A aceitação de novas formas de amar e ver o mundo ainda tem forte oposição por parte do lado conservador. Aqui então, entram as formas de abordagem. Como visto, o livro de Matsuura tornou-se um best-seller num país extremamente conservador. Como dizem "Não é o que se diz, mas como se diz.". Jogar a verdade na cara das pessoas não é uma forma amigável [ou mesmo caridosa] de se fazer as coisas. A forma de pensar muda aos poucos, e como mostrado no livro, experiência é necessária para se chegar a uma consciência maior. E acho meio engraçado a forma como essas escritoras parecem tão inocentes.. Ela e a Anne Rice.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Para Sempre

Autor: Alyson Noël
Tradutores: Marcelo Mendes & Flávia Souto Maior

  

Gênero: Romance/Sobrenatural
Editora: Intrínseca
N° de Páginas: 304





"Eu estou mesmo com ciúmes. Eu sou possessiva. E paranoica."





           Ever Bloom era o que  chamaríamos de "garota popular americana", loira, líder de torcida, namorada de um dos jogadores de futebol da escola. Tudo ia muito bem, até que toda sua família morre em um acidente de carro. Ao acordar no hospital, Ever descobre que não está necessariamente sozinha. Como consequência do acidente ela agora tem poderes psíquicos e sobrenaturais, como ouvir pensamentos, enxergar a aura das pessoas [isso é interessante, o livro apresenta um esquema de cores e seus significados..], ver fantasmas [capacidade muito pouco explorada na história..], ou mesmo saber tudo sobre uma pessoa com apenas um toque. Um desses fantasmas é sua irmã, Riley [a única personagem com carisma no livro..], uma garota de doze anos, que parece ter voltado para implicar com a irmã. Por causa de seus dons, Ever se esconde atrás de um moletom e de seu I-pod, que a impedem de ser tocada por terceiros, ou ouvir demais os pensamentos das pessoas, o que é insuportável para ela, pois a aura e sentimentos das pessoas a afetam.

          Início interessante, uma garota nova numa escola nova, com uma amiga gótica e um amigo gay, formando a mesa dos excluídos. Contudo, o complexo de "Quero Ser Normal" de Ever, enche a paciência. Tudo bem, aconteceram coisas terríveis, e é difícil lidar com isso, mas ela não relaxa, e esse é um tipo de tensão transmitida ao leitor. Então, a vida está aceitável, na escola há a garota popular que a odeia, e ela não fala com muito mais gente que seus dois amigos, até que aparece Damen, o cara superhiperultramaravilhoso [com uma personalidade altamente instável e irritante..], que por alguma razão se interessa por ela [e depois não, e depois sim, e Tom & Jerry é mais divertido..]. Damen é um cara misterioso, e Ever quer descobrir o que ele esconde, e ao que parece seu passado e futuro sempre se entrelaçam. Para maiores informações vide o livro.


Autora:  Alyson Noël nasceu no Condado de Orange, EUA. Começou a escrever na adolescência, tendo agora os livros traduzidos para uns 35 países. Com o sucesso da série Os Imortais, ela decidiu dar continuidade a obra, contando a versão de Riley Bloom, em Radiance, e suas sequências. No site da autora Aqui, onde podem ser encontradas maiores informações sobre ela e sobre seus livros lançados. 



Link para o livro: Para Sempre



C.P.: Como terapia ocupacional, eu leio. A leitura é um prazer, uma distração, um desestressante natural. Além disso, é uma forma de adquirir conhecimentos aleatórios sobre o mundo em geral, e alguns específicos [outro de meus hobbies é criticar os pontos fracos dos livros.. implicar com alguma coisa é su-bli-me..]. Apesar de ser estudante de Letras, e ter todo um contato com os chamados Clássicos, gosto do que chamo de "livros de leitura fácil". Estes são aqueles romances adolescentes, em que algo de sobrenatural geralmente acontece [vampiros, anjos, demônios, imortais, distúrbios psíquicos..], ou simplesmente dramas exagerados, ou fantasias e livros infantis. Acontece que eu simplesmente posso me perder nisso, e me manter ocupada por uns dias. Agora, tendo explanado meu gosto por livros do tipo, tenho a dizer que esse é medonho. Completamente aborrecido. Todos os personagens soam falsos, e, com exceção da personagem principal, eles parecem meio desfocados [como os figurantes nos animes..]. O ponto forte do livro é o fato de ter um imortal não sobrenatural, em termos. De resto, o romance é forçado, as amizades também, na verdade, qualquer tipo de relacionamento o é. Os vilões são ridículos e autocentrados, de uma forma brega. Os  tradutores ainda nos fazem o favor de usar uma linguagem supostamente adolescente [vergonha alheia..]. O fato curioso é: E porque eu não abandonei o livro?? Não é meu costume abandonar os livros, mesmo que a história não me agrade. Gosto de chegar até o fim, às vezes vale a pena. Mas do meu ponto de vista [um tanto quanto cínico..], eu não parei de ler exatamente porque é ruim. É um ruim do tipo: tenho de ver o quanto isso pode piorar antes de acabar.. Enfim, já li os dois primeiros da saga Os Imortais [e acabei de descobrir que tem pelo menos seis deles.. repensando o abandono..].

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Shigatsu wa Kimi no Uso

Autor: Naoshi Arakawa [Takao Yoshioka]



Anime: 22 Episódios
Estúdio: A-1 Pictures
Abertura: Hikaru Nara - Goose House
                Nanairo Symphony - Coala Mode
Encerramento: Kirameki - Wacci
                        Orange - 7!!



"É estranho que as cenas que são inesquecíveis sejam coisas tão simples, não acha?"



       


          Arima Kousei, gênio infantil do piano, capaz de seguir fielmente as partituras de grandes mestres consagrados, sofre um colapso emocional em uma de suas apresentações, logo após a morte da mãe, não sendo mais capaz de ouvir as notas musicais do piano. Por conta disso ele abandona as competições e se distancia da música por dois anos. O piano passa a representar uma coisa ruim para ele, está ligado a morte da mãe, e a uma infância complicada. Quando criança, Arima demonstrou grande aptidão para o piano, e sua mãe sendo musicista passou a ensiná-lo a tocar. Os problemas começam quando ela fica doente, e então o ensinamento passa a ser abusivo. Ela o mantém treinando durante horas, bate e insulta, além de dificultar a aproximação de outras crianças.




        


          É claro que isso não impede que Tsubaki, sua vizinha, se torne sua melhor amiga. Ela é daquele tipo forte, que está disposto a tudo para o bem de quem ama. A garota do beisebol, que tem dificuldade em reconhecer os próprios sentimentos, sincera e hiperativa. Ela é quem sempre ajudou Arima, esteve sempre ao seu lado, e tem milhares de histórias para contar sobre essa amizade. Ela sabe como foi difícil para ele os últimos dois anos. Tsubaki quer que ele enfrente o piano mais uma vez, e então continue tocando ou desista de vez, pois a indecisão só prolonga o sofrimento.







          E é aqui que entra o furacão chamado Kawori. Ela é uma violinista, que diz gostar do amigo de Arima, Watari [garoto meio mulherengo, popular e sempre animado, amigo sincero de Arima]. Ela tem uma personalidade forte, do tipo que consegue o que quer, nem que seja a força [o que de fato acontece algumas vezes..]. Mimada e decidida. Possui um brilho próprio que atrai Arima para fora de seu mundo escuro de até então. Kawo obriga convida o garoto para ser seu acompanhante em uma competição, coisa que ele inicialmente recusa, mas acaba cedendo. Na competição, Arima mais uma vez é incapaz de ouvir os sons do piano, mas continua a tocar pois sua violinista insolente o induz, atrai, e eleva com seu brilho. "Você seria capaz de esquecer?". Kawo toca por que há alguém para ouvi-la, porque há alguém a quem ela pode, talvez, tocar o coração com sua música, e assim, tornar o momento inesquecível.




          Essa competição é o ponto mais alto do anime, ao meu ver. É quando os dois tocam juntos, se enfrentam, brilham, até que ela desfalece e é hospitalizada. A partir daí tudo é sobre como chegamos a esse ponto, o que aconteceu antes, como superar os traumas, sobre como seguir em frente apesar de tudo. Arima tem de superar a morte de sua mãe, para poder voltar a tocar. "De cabeça baixa novamente?". Ele tem de aprender a superar, para poder seguir em frente, fazer jus a amizade e apoio que recebeu. Kawo passa a lutar contra a doença, lutar para ser ela mesma. Tsubaki precisa enfrentar os próprios sentimentos, e descobrir o que estar sempre ao lado de uma pessoa pode ser doloroso e gratificante.




 
C.P.: E quando eu penso não haver mais nenhum anime que realmente me atraia, que consiga passar uma enorme carga emocional, me deparo com este.Tenho de dizer que ri demais, e chorei mais um bocado. Existem uns poucos autores que são capazes de tocar nosso coração, esse é um deles ["essa", mais provavelmente, mas ainda acho difícil diferenciar sexo em nomes japoneses]. Todos temos medos e desejos, e somente nós podemos enfrentar isso e ir atrás do que realmente nos importa. Poderia dizer que é um anime um tanto triste, e é, no entanto, ele é mais que isso. Sabemos que coisas ruins acontecem, e nem sempre estamos prontos para elas. Enfrentar e seguir em frente, não só por nós, mas por todos que nos amam, e em memória dos que se foram. Faça tudo o que quer fazer, ria, sofra, chore, erre, experimente. A vida é uma só, e estamos aqui pra isso. Os personagens falavam as vezes sobre as estações, ao que me parece, cada um representa uma delas: Arima, Outono, Kawo, Inverno, Watari, Primavera, e Tsubaki, Verão.




sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Menina Submersa: Memórias

Autor: Caitlín R. Kiernan
Tradutoras: Ana Resende e Carolina Caires Coelho



Gênero: Fantasia/Psicológico
Editora: DarkSide
Nº de Páginas: 320





"Essa é outra forma de ser assombrado: começar algo e nunca terminar."








          India Morgan Phelps [Imp pros mais chegados... acho esse nome profundamente sonoro..] é uma jovem já na casa dos vinte anos. Ela mora sozinha e vive de seu trabalho de meio-período, uma quantia deixada como herança, e mais a venda de alguns quadros que ela produz com este intuito [ela também publica contos, ocasionalmente...]. Sua vida é tão comum quanto a vida de uma esquizofrênica em tratamento pode ser: ela trabalha, se considera pintora [sendo que não vende seus verdadeiros quadros..], vai às consultas com a Dra. Ogilvy, e vive em meio aos móveis e recordações de sua mãe, Caroline, e de sua avó Rosemary. Imp tem um histórico de esquizofrenia na família, sendo que sua avó e mãe se suicidaram. Há também o caso de uma tia [não se sabe o modo de transmissão genética da esquizofrenia, mas pessoas com relação em primeiro grau com esquizofrênicos tem maior chance de desenvolver a doença.. O esquizofrênico tende a ter alucinações, delírios, alterações de pensamento e afetividade, diminuição da motivação, dificuldade de concentração, desconfiança excessiva e indiferença (os hipocondríacos todos se eriçando agora...). Esta doença costuma se desenvolver na adolescência ou início da vida adulta. Lembrando que esta é uma pesquisa superficial sobre o assunto.]. 


          Um dia, ao caminhar pela rua, Imp se depara com um monte de coisas jogadas: roupas, livros e coisas afins. Ela para para olhar, e é então surpreendida por Abalyn, a dona das coisas. Abalyn explica que foi botada pra fora pela ex, e Imp se oferece para guardar as coisas dela, pois está prestes a chover. Daí, o que era pra ser uma noite vira um relacionamento. Imp é uma jovem reservada, já Abalyn é mais resolvida [ela fez uma cirurgia de mudança de sexo, teve brigas por ser homossexual, saiu de casa jovem... e trabalha publicando artigos sobre games], e é ela quem traz elementos tecnológicos a história. Imp não vê a necessidade deles, sendo que ainda tinha LPs, deixados por sua mãe, e nem sequer tinha uma TV. Ela é mais do tipo leitora [e há uma incrível quantidade de citações neste livro: Alice e as músicas, Homero e as sereias, Edgar Alan Poe, que não poderia faltar numa história de terror psicológico, Herman Melville, Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christien Andersen, porque contos são essenciais, Robert Frost, Dante Alighieri, Emily Dickinson, Joseph Conrad, que eu particularmente não gosto, entre diversos outros que ela mesma cita em uma nota final, mas que não fui capaz de reconhecer.], e coleciona datas e informações sobre uma pintura: A Menina Submersa de Phillip George Saltonstall [também há outra pintura, que a impressiona, Fecunda Ratis, de Albert Perrault, ambos fictícios, embora as pinturas tenham sido feitas..].


          Imp viu essa pintura quando tinha onze anos, em uma visita ao museu com sua mãe. Desde então a pintura a assombra, pois em sua visão, ao ter pintado a garota, Saltonstall transmitiu a "maldição". Toda a história é contada em primeira pessoa por Imp e se divide em duas partes: O tempo real, em que Imp digita seu conto de fadas assombrado em uma velha máquina de escrever; e o segundo que é o desenrolar descrito por ela. Junta-se a isso o fato de sua doença fazer com que ela não possa confiar em sua própria memória, assim, ela mesma diz que vai tentar se ater aos fatos, apesar de não fazê-lo sempre, e até se repreender. Em toda narrativa ela mostra que quer escrever o conto, mas que também tem medo dele, e o conto em si se altera, devido ao que ela acredita ser real. 


"Oh! Eu tenho mudado o tempo, mas então não há tempo bom nesta terra Blakeana dos sonhos, este labirinto mnemônico, passado e presente indistinguíveis. O passado é o presente, não é? É o futuro, também. Assim como disse Mary Cavan Tyrone."


          Sua verdadeira história assombrada começa quando ela conhece Eva Canning. Isso ocorre quando ela está passeando de carro para espairecer, e se depara com uma jovem loira, nua e toda molhada, na beira da estrada, e então decide levá-la para casa. Abalyn não aprova a atitude de Imp, mas elas não brigam. A partir daí, Imp fica obcecada por Eva, que acredita ser uma sereia [e há aqui uma maravilhosa metáfora com as sereias e seu canto..], mas que acredita também ser um lobo. Aqui sua mente começa a se confundir, e ela afirma haver duas Evas, uma de julho e uma de setembro, uma sereia e uma loba, e que as duas são reais, e que as conheceu pela primeira vez em cada encontro. Por conto dessa obsessão Abalyn vai embora, então Imp fica só, para lidar com sua assombração. 


Autora: Caitlín R. Kiernan é escritora, principalmente de contos goth-noir, paleontóloga e foi vocalista/letrista da banda de rock gótico Death's Little Sister [também escreve histórias em quadrinhos...]. Aqui o site da autora: caitlinrkiernan.com [onde não achei nada de interessante...]. Outros romances seus são Daughter of Hounds, The Red Tree, e também possui coletâneas de contos publicadas, como Tales of Pain and Wonder. Ela foi nomeada quatro vezes para o World Fantasy Award, assim como ganhou os prêmios Bram Stoker e James Tiptree, Jr., com A Menina Submersa: Memórias. Atualmente vive em Providence, Rhode Island.




C.P.: A avó de Imp é mostrada como uma daquelas velhas meio míticas e muito sábias. Uma vez ela diz que quando alguém conta uma história, e um corvo aparece, é porque essa pessoa estava mentindo [associação interessante.. e aqui uma citação que ela faz de Taliesin, poeta galês: "Eu voei na forma de um corvo de fala profética."]. Essa é uma narrativa que te prende, além de conter um tanto de informações e citações, coisa que acho incrível, inda mais por ser sobre temas de que gosto. As citações acima são traduções aleatórias minhas, porque li o texto em inglês. De qualquer forma recomendo a versão nacional, uma vez que adorei a editora, voltada a estórias de terror e fantasia, site DarkSide. Outra coisa interessante foi o fato de um casal homossexual não ser tratado como lutando contra a sociedade, se bem que também é o primeiro que leio, inda mais com mulheres como protagonistas. Imensamente feliz por ter lido, e também por ter terminado de ler. Este é um livro denso, com grande carga emocional e intelectual, e eu sou influenciável por isso [pensando em ver um filme Disney pra resetar meu cérebro..]. Voltando a editora, sua página no Facebook traz links interessantes, como este do Spotify, que traz uma playlist das músicas citadas no livro, e também um Roteiro Literário, que é o que o nome diz que é. 


Link para o livro:




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Arte Burlesca de Hiromi Matsuo

          Pesquisando imagens aleatórias no Google [a gente acha coisas incríveis..], me deparei com uma imagem de Hiromi Matsuo, realmente muito bela. Esta artista cria um fascinante mundo de cores em suas obras, além de juntar o estilo tradicional e delicado japonês com o sexy Burlesco e o vitoriano europeu, cheio de detalhes e adereços [as personagens parecem ter olheiras, ou é maquiagem, mas parece, e isso chama a atenção..]. A tradição européia pós Idade Média costuma chamar minha atenção, ou pelo menos a visão que os artistas atuais tem dela. Não consegui encontrar muita coisa sobre a artista, sendo que seu site pode ser visto clicando aqui. Outra coisa interessante é o interesse que japoneses tem por Alice no País das Maravilhas. Achei algumas imagens criadas pela ilustradora com este tema, e também sobre O Jardim Secreto Chapeuzinho Vermelho [é, sou uma daquelas lunáticas que procuram citações a textos clássicos..].

          Agora, sobre o Burlesco, tenho a dizer que é um estilo de apresentação teatral ou dança, que parodia ou satiriza alguma coisa [e que em alguns casos acabava em striptease.. huhu]. O teatro Burlesco faz parte da estética grotesca, e diz-se ter descendido da Commedia Dell'Art. Este estilo remonta ao século XVI, utilizando-se de disciplinas como teatro, circo, ballet, pantomima, entre outros. Seu estilo inicial era mais como comédia, com pequenos grupos teatrais, que viajavam pelas cidades encenando temas comuns, como adultério, ciúmes, ou mesmo comédias romanas ou gregas. No século XIX, surge uma nova visão de Burlesco, nos EUA e no Canadá. Esta versão é mais ligada a música, havendo apresentações nos chamados Music Hall, que variavam entre música, comédia e apresentações especiais, geralmente voltadas a cultura circense [Aqui, o Burlesco surge em oposição ao teatro tradicional, que era muito elitista..]. O Burlesco entrou em declínio após a Segunda Guerra Mundial, com a afirmação da televisão e do cinema, e o surgimento de novos estilos musicais como o Rock'n'roll. O Burlesco teve seu papel de mudança social, principalmente na visão sexual da mulher, que agora podia mostrar seu corpo. Também foi importante ao confrontar a tradição aristocrática vitoriana com a nova cultura operária.

          Elementos históricos apresentados, tenho a dizer que, o que impressiona no Burlesco, é o estilo e glamour de suas dançarinas. Em contraposição as roupas claras e bem comportadas da Era Vitoriana, temos um vestuário ousado, com muitas cores e texturas, rendas, meias e luvas, além da exibição do corpo feminino [e da maquiagem.. uma coisa meio cabaré chique, como o Moulain Rouge, construído em 1889, na França..]. E esse foi o lado dessa cultura explorado por Hiromi Matsuo.



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