domingo, 8 de janeiro de 2017

Atentado Político

         Enquanto me amarravam firmemente e me aplicavam a injeção letal, só me restavam alguns momentos pra viver e nenhum remorso pelo que eu havia feito, fiz o maior dos sacrifícios pelo bem da humanidade, antes que mais mal pudesse ser feito eu tirei a vida dele.

         Foi uma fração de segundo, o dardo acertando o pescoço, os olhos lustrosos se revirando, o homem foi ao chão, o veneno funcionara, pessoas confusas, correria, gritos. O caos dominando a todos e em seguida eu que estava jogado ao chão, incapacitado, ondas de choque correndo pelo meu corpo, fui esmagado contra ao asfalto molhado e algemado, mas nada disso tirou de mim o sorriso. Fiz o que era preciso ser feito mas não sou um assassino frio e cruel, como pode ter parecido para muitos, nem nunca machuquei ninguém. Familiares, colegas, seguidores, apoiadores, simpatizantes, pensei no sofrimento de todos eles, pensei nas milhares dessas pessoas gritando de horror pelo que fiz a ele, mas isso enquanto bilhões de outras pessoas comemoravam com esperança não por aqui, mas por vários lugares.

         Ele se foi, e eu logo iria...

         Ser executado pelo Estado, foi a sentença oficial. Eu soube que apelos foram feitos ao meu favor, mas foram todos em vão. Me disseram também que eu evitaria a injeção se convencesse a todos que eu era louco, clinicamente, mas a verdade é que a razão e sanidade é que me permitiram fazer o que fiz, eu não podia ignorar o que estava acontecendo ao mundo. Os investigadores concluíram por fim que  eu não poderia ser diagnosticado como criminalmente insano, descobriram na verdade que eu havia sido durante minha vida "um membro respeitável e querido da sociedade, uma ameaça menor que qualquer outro cidadão", exceto, claro, pelo homem matei.

         Enquanto os sedativos faziam efeito em meu corpo, tentei escapar do medo e concentrar em pelo que sacrifiquei minha vida, relaxei,  sorri e fechei meus olhos para a luz da sala, o padre presente na hora da execução assim como manda a lei, se aproximou pesadamente e ajoelhou-se ao meu lado. 'Você percebe que irá direto ao inferno?' pensei em como a ideia de inferno em minha opinião estava longe da que ele imaginava, era minha menor preocupação, me preocupava mais o inferno que muitos vivenciam em carne e osso, eu abri meu sorriso um  pouco mais e ele respirou fundo, 'Acho que vc precisa saber que o sucessor do homem que você matou planejou toda essa situação'. meus olhos se abriram por completo para a luz gritante na sala branca, em minha face não havia expressão. 'O que você fez foi por nada'.
                                                                                          


         Essa pequena história foi fortemente inspirada na letra da canção punk The Man I Killed da banda punk norte-americana NOFX, conhecida pelo forte teor político e críticas a filosofias fanatistas, políticos controversos como George W. Bush e organizações como a NRA - Associação Nacional de Rifles, uma organização que busca promover a armamentação da população americana.
       
NOFX em Budapeste, Hungria, 15 de agosto de 2013.

         Outra influência é o filme Taxi Driver - Motorista de Taxi (1976) onde um ex-soldado se torna um taxista mas logo se vê revoltado e frustrado pelo que vê e sofre nas noites da cidade onde trabalha, a revolta cresce até que ele planeja cometer um atentado contra um candidato a senador.

Robert De Niro, como o taxista. O sorriso é outra marca do personagem.

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