terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mad Dogs & Co


Autor: Chart korbjitti

Tradutor: Marcel Barang


Gênero: Romance/Ficção
Editora: Howling Books
N° de Páginas: 510


"Para eles, quando alguém havia partido, isso se tornava uma história divertida, um episódio feliz que valia a pena ser contado. Eles falavam apenas do que já havia passado: não falariam do que estava por vir."*

"For them, when someone was over, it became a funny story, a bout of happiness worth talking about. They talked only of what had gone by: they wouldn't talk about was coming up." p. 503


           Quando amigos de verdade se reúnem depois de muito tempo, com bebida à vontade, boas histórias para se contar é o que não falta. Este livro é contado do ponto de vista dos personagens. Dois amigos se encontram num bar, depois de muito tempo sem se ver, e começam a contar como estão suas vidas. É um dia chuvoso, e é a chuva que nos traz de volta a realidade, após cada história. Um assunto puxa outro, uma dose leva a outra, e somos carregados pelas lembranças de Otto, Chuanchua, Thai, Sam Lee, Lil Hip e outros. A história se passa na Tailândia, e mesmo sabendo que não se pode levar tão a sério o contexto de uma ficção, sempre acho que há muito de realidade na organização social e costumes apresentados. Como por exemplo o uso de mosquiteiros ou a forma como algumas pessoas tentam ganhar a vida trabalhando em comércios, tentando manter esses negócios, ou mesmo a estação turística, que mantém os comércios abertos metade do ano, sendo que na outra metade não há clientes suficientes e os negócios tem de fechar e aguardar a próxima estação.
         Otto é o dono de uma loja de suvenires para turistas, a loja está fechada quando Chuanchua chega de Bangkok para visitá-lo. Eles vão para um bar e começa a rodada de conversas e reminiscências, sempre de forma descontraída, rindo da desventuras um do outro. Otto já foi procurado pela polícia por tentativa de homicídio, quando adolescente. Abandonou os estudos para fugir, esteve envolvido com drogas, e trabalhava como segurança para uma espécie de máfia, quando perdeu alguns dentes. Teve uma oportunidade de largar essa vida e a pegou. Passou a viver com amigos numa loja a beira-mar. Eles só ganhavam o suficiente para comprar a bebida [e outras drogas, o consumo é bastante explicito..] e um pouco de comida. Viveu como hippie durante esse período de sua vida. 


"He had thought about running away from the underworld, but there was no way out. How could he leave? He was still wanted by the police. How could he find a job? He had no education. Worse than that, he had become a drug addict. Where would he find the strenght for unskilled labor? Besides, any work of that kind was unlikely to bring enough money to satisfy his needs." p. 86

"Ele pensou em fugir do submundo, mas não havia saída. Como poderia fugir? Ele ainda era procurado pela polícia. Como poderia encontrar um emprego? Ele não tinha estudos. Pior que isso, tinha se tornado um viciado. Onde encontraria força para trabalhos pesados? De qualquer forma, qualquer trabalho desse tipo não traria dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades."*


           A história vai sempre mudando de foco e retornando. De Chuanchua pouco é contado, ele parece estar mais presente para que a história possa se desenvolver. Ele é um escritor, de férias, ou na verdade em busca de inspiração para seu novo romance. Também conhecemos Thai, com sua infância sofrida pela incompreensão do pai, seu gosto pela música e suas habilidades comerciais. Thai abre um restaurante, onde é bem sucedido, porém tem problemas conjugais, e acaba se enredando nas drogas. Quando sua esposa, Tha, estava grávida, ele se envolveu com a cozinheira e todo mundo ficou sabendo. Tha o abandonou, e foi morar com seu filho na casa da sogra. Há algumas reviravoltas nisso, mas essa parte é interessante, pois as mulheres não tem uma participação muito ativa nesse livro. Acaba sendo sempre um bando de amigos se divertindo. As mulheres são mais parte da diversão, ou personagens secundários, como a mãe austera de Thai ou a madrasta de Otto.
            Sam Lee é o personagem calmo do grupo, é honesto, gentil, não bebe, mas está sempre junto para ajudar os amigos. O senso de amizade é o tema central deste livro. O tipo de amizade profunda do tipo "faça isso, sem perguntas", e o outro respeitar. É saber que sempre terá alguém para te ouvir, pagar uma cerveja, ou mesmo dividir a casa. E é também muito brincalhão. Você pode ver histórias tristes como a morte do pai de Thai. E pode ver também as engraçadas, como quando.. pensando bem, geralmente envolve acidentes e drogas e/ou bebidas. Um deles caiu do segundo ou terceiro andar, quando tentava se esconder dos amigos, mas estava bêbado demais e acabou dormindo. Outro caiu de um trem em movimento. Também tiveram dois que caíram de moto. Ah! E claro, o que se envolveu com uma freira, que acabou virando uma esposa megera. E o que roubou a namorada do outro, porque não queria que este se casasse e o abandonasse. E assim por diante.
          Este é um daqueles livros que você precisa se acostumar com, antes de realmente apreciar. Isso por conta da linguagem, e também por se tratar de uma outra cultura. Acaba levando um tempo para se ambientar. Contudo, vale a pena o esforço. "O livro atual é sempre o melhor."... nem sempre. Já li uns muito ruins. Uns que gostaria de pedir meu tempo de volta, e uns que valeram só pelo final surpreendente. Este vale como um conjunto. É como estar reunido com um grupo de amigos ouvindo histórias hilárias, e algumas tristes. E tudo isso faz parte de ser humano.


"He grabbed the money and walked out of the store. He didn't understand why some people coudn't feel some sympathy for others or at least show some understanding, instead of only hankering after money and profit." p. 176

"Ele pegou o dinheiro e saiu da loja. Ele não entendia porque algumas pessoas não podiam ter simpatia pelos outros, ou, pelo menos, mostrar alguma compreensão, ao invés de somente desejar dinheiro e lucro."*






Autor: Chart Korbjitti nasceu em Samut Sakhon, Tailândia, em 1954. Ganhou dois S.E.A. Write Awards, e foi nomeado Artista Nacional em Literatura em 2004. Lançou vários livros, dentre os quais os mais  famosos são: No Way Out, Time, The Judgement, e, é claro, Mad Dogs and Co.


"That we met too late or too soon is neither here nor there. What's important is that we met at all." p. 263

"Se nos conhecemos muito cedo ou muito tarde, não importa. O que importa é que nos conhecemos de todo."*

C.P.: Acho sensacional a forma como ele cria histórias, ou melhor, a forma como as conta. Sempre acreditei que não importa muito o tema, desde que você seja um bom contador. É por essa razão que não me prendo a gêneros literários. Todos eles podem te surpreender, desde que tenha escolhido o escritor correto. A tradução que peguei foi maravilhosa, mantendo a linguagem coloquial, ainda que um pouco difícil de entender, às vezes [se não houvesse um pouco de desafio, que graça teria??]. Peguei a versão em inglês, não há tradução em português [que eu saiba..]. Na verdade, foi bem difícil conseguir informações sobre esse autor. São sempre termos gerais. Precisamos expandir nossos horizontes de leitura, e saber outra língua ajuda bastante.


'"Happy birthday," Chuanchua toasted as he raised his bottle.
   After drinking they laughed at each other. They knew today was no birthday for either of them, but they felt amused to celebrate it. When someone asked, "Whose birthday is it?" they'd answer, "There must be someone who was born today."' p. 401

"- Feliz aniversário, -  Chuanchua brindou enquanto levantava sua garrafa. Depois de beber, riram um para o outro. Eles sabiam que hoje não era o aniversário de nenhum deles, mas se sentiram satisfeitos em celebrar. E quando alguém perguntou - Quem é o aniversariante? - eles responderam: - Deve haver alguém que nasceu hoje."*

* Tradução livre.

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