sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Menina Submersa: Memórias

Autor: Caitlín R. Kiernan
Tradutoras: Ana Resende e Carolina Caires Coelho



Gênero: Fantasia/Psicológico
Editora: DarkSide
Nº de Páginas: 320





"Essa é outra forma de ser assombrado: começar algo e nunca terminar."








          India Morgan Phelps [Imp pros mais chegados... acho esse nome profundamente sonoro..] é uma jovem já na casa dos vinte anos. Ela mora sozinha e vive de seu trabalho de meio-período, uma quantia deixada como herança, e mais a venda de alguns quadros que ela produz com este intuito [ela também publica contos, ocasionalmente...]. Sua vida é tão comum quanto a vida de uma esquizofrênica em tratamento pode ser: ela trabalha, se considera pintora [sendo que não vende seus verdadeiros quadros..], vai às consultas com a Dra. Ogilvy, e vive em meio aos móveis e recordações de sua mãe, Caroline, e de sua avó Rosemary. Imp tem um histórico de esquizofrenia na família, sendo que sua avó e mãe se suicidaram. Há também o caso de uma tia [não se sabe o modo de transmissão genética da esquizofrenia, mas pessoas com relação em primeiro grau com esquizofrênicos tem maior chance de desenvolver a doença.. O esquizofrênico tende a ter alucinações, delírios, alterações de pensamento e afetividade, diminuição da motivação, dificuldade de concentração, desconfiança excessiva e indiferença (os hipocondríacos todos se eriçando agora...). Esta doença costuma se desenvolver na adolescência ou início da vida adulta. Lembrando que esta é uma pesquisa superficial sobre o assunto.]. 


          Um dia, ao caminhar pela rua, Imp se depara com um monte de coisas jogadas: roupas, livros e coisas afins. Ela para para olhar, e é então surpreendida por Abalyn, a dona das coisas. Abalyn explica que foi botada pra fora pela ex, e Imp se oferece para guardar as coisas dela, pois está prestes a chover. Daí, o que era pra ser uma noite vira um relacionamento. Imp é uma jovem reservada, já Abalyn é mais resolvida [ela fez uma cirurgia de mudança de sexo, teve brigas por ser homossexual, saiu de casa jovem... e trabalha publicando artigos sobre games], e é ela quem traz elementos tecnológicos a história. Imp não vê a necessidade deles, sendo que ainda tinha LPs, deixados por sua mãe, e nem sequer tinha uma TV. Ela é mais do tipo leitora [e há uma incrível quantidade de citações neste livro: Alice e as músicas, Homero e as sereias, Edgar Alan Poe, que não poderia faltar numa história de terror psicológico, Herman Melville, Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christien Andersen, porque contos são essenciais, Robert Frost, Dante Alighieri, Emily Dickinson, Joseph Conrad, que eu particularmente não gosto, entre diversos outros que ela mesma cita em uma nota final, mas que não fui capaz de reconhecer.], e coleciona datas e informações sobre uma pintura: A Menina Submersa de Phillip George Saltonstall [também há outra pintura, que a impressiona, Fecunda Ratis, de Albert Perrault, ambos fictícios, embora as pinturas tenham sido feitas..].


          Imp viu essa pintura quando tinha onze anos, em uma visita ao museu com sua mãe. Desde então a pintura a assombra, pois em sua visão, ao ter pintado a garota, Saltonstall transmitiu a "maldição". Toda a história é contada em primeira pessoa por Imp e se divide em duas partes: O tempo real, em que Imp digita seu conto de fadas assombrado em uma velha máquina de escrever; e o segundo que é o desenrolar descrito por ela. Junta-se a isso o fato de sua doença fazer com que ela não possa confiar em sua própria memória, assim, ela mesma diz que vai tentar se ater aos fatos, apesar de não fazê-lo sempre, e até se repreender. Em toda narrativa ela mostra que quer escrever o conto, mas que também tem medo dele, e o conto em si se altera, devido ao que ela acredita ser real. 


"Oh! Eu tenho mudado o tempo, mas então não há tempo bom nesta terra Blakeana dos sonhos, este labirinto mnemônico, passado e presente indistinguíveis. O passado é o presente, não é? É o futuro, também. Assim como disse Mary Cavan Tyrone."


          Sua verdadeira história assombrada começa quando ela conhece Eva Canning. Isso ocorre quando ela está passeando de carro para espairecer, e se depara com uma jovem loira, nua e toda molhada, na beira da estrada, e então decide levá-la para casa. Abalyn não aprova a atitude de Imp, mas elas não brigam. A partir daí, Imp fica obcecada por Eva, que acredita ser uma sereia [e há aqui uma maravilhosa metáfora com as sereias e seu canto..], mas que acredita também ser um lobo. Aqui sua mente começa a se confundir, e ela afirma haver duas Evas, uma de julho e uma de setembro, uma sereia e uma loba, e que as duas são reais, e que as conheceu pela primeira vez em cada encontro. Por conto dessa obsessão Abalyn vai embora, então Imp fica só, para lidar com sua assombração. 


Autora: Caitlín R. Kiernan é escritora, principalmente de contos goth-noir, paleontóloga e foi vocalista/letrista da banda de rock gótico Death's Little Sister [também escreve histórias em quadrinhos...]. Aqui o site da autora: caitlinrkiernan.com [onde não achei nada de interessante...]. Outros romances seus são Daughter of Hounds, The Red Tree, e também possui coletâneas de contos publicadas, como Tales of Pain and Wonder. Ela foi nomeada quatro vezes para o World Fantasy Award, assim como ganhou os prêmios Bram Stoker e James Tiptree, Jr., com A Menina Submersa: Memórias. Atualmente vive em Providence, Rhode Island.




C.P.: A avó de Imp é mostrada como uma daquelas velhas meio míticas e muito sábias. Uma vez ela diz que quando alguém conta uma história, e um corvo aparece, é porque essa pessoa estava mentindo [associação interessante.. e aqui uma citação que ela faz de Taliesin, poeta galês: "Eu voei na forma de um corvo de fala profética."]. Essa é uma narrativa que te prende, além de conter um tanto de informações e citações, coisa que acho incrível, inda mais por ser sobre temas de que gosto. As citações acima são traduções aleatórias minhas, porque li o texto em inglês. De qualquer forma recomendo a versão nacional, uma vez que adorei a editora, voltada a estórias de terror e fantasia, site DarkSide. Outra coisa interessante foi o fato de um casal homossexual não ser tratado como lutando contra a sociedade, se bem que também é o primeiro que leio, inda mais com mulheres como protagonistas. Imensamente feliz por ter lido, e também por ter terminado de ler. Este é um livro denso, com grande carga emocional e intelectual, e eu sou influenciável por isso [pensando em ver um filme Disney pra resetar meu cérebro..]. Voltando a editora, sua página no Facebook traz links interessantes, como este do Spotify, que traz uma playlist das músicas citadas no livro, e também um Roteiro Literário, que é o que o nome diz que é. 


Link para o livro:




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